Esperar o tempo de fala da criança atrasa diagnósticos

tempo de fala

“Esperar o tempo de fala da criança atrasa diagnósticos e limita opções de tratamentos”, diz fonoaudióloga.

Especialista em intervenções precoces, Daniella Sales Brom atende crianças atípicas há quase 20 anos, e afirma que os atrasos nos marcos do desenvolvimento infantil são sinais de alerta

Há alguns dias, a influenciadora Virginia rebateu um comentário que recebeu de uma pediatra em suas redes sociais sobre um possível atraso no desenvolvimento da fala de sua filha Maria Alice, de 1 ano e 3 meses. O comentário dizia que a fala da criança está atrasada e que ela “já deveria estar falando, pelo menos, mais três palavras, além dos nomes da família”.

Para a fonoaudióloga especialista em intervenções precoces e diretora do BakyKids Centro de Especialidades, Daniella Sales Brom, o diagnóstico da criança não pode ser feito apenas pelo que é visto nas redes sociais, mas só com avaliações e acompanhamentos detalhados no consultório de um profissional habilitado e preparado para trabalhar com as questões da comunicação – desde prevenção, orientação, tratamento, intervenção e estimulação -, que é o fonoaudiólogo.

“Dizer que ‘cada criança tem seu tempo’ pode acabar sendo uma justificativa dos pais e familiares para não enxergar ou enfrentar as adversidades. E isso não é por maldade, mas por falta de conhecimento ou pelo desejo de esperar para ver a criança se desenvolver como outras. Porém, é preciso ter cuidado porque negligenciar os sinais pode prejudicar a criança. Atualmente, com a vida mais corrida e o uso das telas, muitas vezes falta incentivo à fala e à interação. Então, é preciso orientar a família de forma geral”, explica a fonoaudióloga.

1 ano de idade é um marco importante

Segundo Daniella, as opções de testes e avaliações clínicos para diagnosticar atrasos de fala e linguagem, síndromes e até casos de crianças com o Transtorno do Espectro Autista evoluíram muito nos últimos anos, mas ainda encontram no senso comum e nas crenças populares seus maiores obstáculos. “É preciso ter cuidado com essas crenças porque às vezes podem contribuir para que os pais neguem a realidade e isso pode prejudicar o diagnóstico e tratamento de condições atípicas, atrasando a busca da família por ajuda e diminuindo as opções de intervenções e tratamentos precoces para as crianças”, diz Daniella.

Desde os primeiros 15 dias de vida em diante já existem avaliações, como a observação do frênulo da língua, feito ainda na maternidade. Depois, existem algumas avaliações audiológicas de rastreio para ver se a criança escuta, porque é por meio dessa audição que a criança vai desenvolver a comunicação falada e uma linguagem expressiva.

Se com cinco ou seis meses a criança não solta gritinhos, não tem intenção para comunicar, não olha, não brinca, não manipula brinquedos ou não pega na comida, já existem protocolos, nacionais e internacionais, para realizar as avaliações. As avaliações de comunicação motora da fala ou de expressão, podem ser feitas a partir do momento que a criança adquire balbucios.

“Com um ano de vida, a criança precisa ter no seu vocabulário palavras como mamã, papá, água ou águ, bobó (vovó). Esse é um marco pontuado pelas referências científicas, então é importante. E, a partir daí, as avaliações são cada vez mais minuciosas para perceber também as questões mais sutis não só da comunicação, mas do desenvolvimento neurológico da criança”, diz Daniella.

Marcos do Desenvolvimento Infantil

  • Até os quatro meses é esperado mexer os olhos em todas as direções, sorrir para as pessoas, alcançar brinquedos, sustentar a cabeça, empurrar as perninhas e imitar sons;
  • Até os seis meses, o bebê rola nas duas direções, reconhece familiares, responde com sons ao que ouve, tenta pegar objetivos, começa a se sentar sem apoio e ri ou grita;
  • A partir dos nove meses, começa o apego com familiares, entende o “não”, balbucia palavras “mama” e “papa”, faz movimento de pinça com os dedos e se senta sem suporte;
  • Com 12 meses, o bebê responde comandos simples de voz, tenta reproduzir palavras, copia gestos, fica de pé apoiado, tem coisas e pessoas favoritas e pode dar passos;
  • Aos 18 meses, ele entrega objetos às pessoas, fala palavras simples, acena a cabeça para “sim” e “não”, aponta para partes do corpo e anda sozinho;
  • Ao completar 24 meses, a criança é capaz de imitar os outros, gosta de brincar com outras crianças, conhece nome de familiares e objetos, fala frases de duas a quatro palavras, já aprende consegue chutar uma bola e começa a correr e entender cores e formas.

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