Oi gentem! Não é fácil explicar para uma criança sobre um familiar que já partiu não é mesmo? A Psicopedagoga Luciane Pires chama atenção dos familiares para uma conversa aberta sobre morte e o passado na infância.
Pode não ser um assunto fácil de tratar, mas é inevitável. Para a psicopedagoga Luciane Pires, a morte deve ser, sim, inserida na conversa com as crianças em casa, mas não somente: acontecimentos do passado também precisam ser abordados, sejam eles bons ou ruins.
Luciane explica que falar sobre estes temas é uma forma de incluir as crianças no contexto familiar, fazendo com que se sintam uma parte importante do grupo. Além disto, auxilia no desenvolvimento dos pequenos que aprendem, desde cedo, a lidar com as adversidades da vida e ajuda a trabalhar alguma “ferida” emocional escondida no inconsciente.
A literatura infantil pode ser uma grande aliada para a compreensão de assuntos delicados como estes. Por isto, Luciane lança o livro Tenho um lugar para você, que trata, principalmente, sobre a importância de envolver a criança nos assuntos familiares.
Confira a entrevista exclusiva com a autora e saiba mais sobre o assunto:
- Quando e como surgiu sua paixão pela escrita?
Ainda criança, antes de começar da alfabetização, sentia uma vontade muito grande de ler sozinha para poder fazer a leitura dos meus gibis. Adorava as histórias em quadrinhos e os livros de Walt Disney. E pensava também que, assim que eu começasse a escrever, iria anotar meu dia a dia e minhas ideias, que eram muito fluentes na mente! Sempre gostei de fazer redações na escola e em casa gostava muito de ler livros e ter um caderno para os resumos. Em muitos momentos na idade adulta, acordava de madrugada com ideias na cabeça e começava a fazer alguns escritos.
- Como e quando surgiu a oportunidade e motivação de escrever esta obra infantil?
Especificamente essa obra veio da necessidade de registrar a situação que vivenciei com meu filho. Ainda como aluna do curso em constelação familiar, levei o tema da desatenção e o desânimo na escola. E o campo da constelação mostrou o movimento inconsciente dele de olhar para o irmão que morreu cedo.
A partir do momento em que a situação foi olhada por mim como mãe e foi revelada a ele que, até então, não sabia da existência desse irmão, seu comportamento na vida modificou. Meu filho ficou mais falante, atento e alegre. Recebi, inclusive, esse feedback da escola.
Depois de algum tempo, numa tarde, me veio a ideia da escrita desse fato como uma história para que eu pudesse ler para ele. Assim, fiz a escrita do livro, entendendo que poderia ser mais uma forma de elaboração dessa perda para meu filho.
- Qual é a principal mensagem que o livro traz aos pequenos leitores? E aos adultos?
Aos pequenos leitores, a importância de se situar no seu lugar na família. Percebendo-se o filho como o pequeno em relação aos pais e sabendo seu lugar junto à sua irmandade. Assim, estamos no nosso lugar de força e de mais alegria na vida. Aos adultos, a importância do olhar sensível para a família. Quando um membro dessa família não está bem, pode haver alguma dinâmica inconsciente acontecendo.
Em geral, percebemos que as crianças, principalmente os mais novos, podem se colocar a serviço da reparação de algum esquecimento ou exclusão de uma situação/pessoa na família. Isso ocorre de forma inconsciente e, em geral, como uma atitude muito amorosa em relação ao que está a parte. Isso se denomina, segundo Bert Hellinger, uma transgressão à ordem do amor, ou seja, todos fazem parte da família, mesmo aqueles que não puderam ficar ou realizam atos condenados pela sociedade.
A isso chamamos de o “direito de pertencer” ou “pertencimento”. Se há alguma exclusão, o sistema familiar busca o retorno para a harmonia, fazendo com que alguém do sistema traga à tona o tema/situação. Outro importante fator envolvido é a “hierarquia”: todos têm seu lugar na família. Para um filho saber que ele não é o primeiro, por exemplo, o “libera” de ter de agir de forma que lembre um primeiro irmão esquecido.
- Teve algum escritor ou escritora como inspiração?
Especificamente quanto ao tema, os ensinamentos de Bert Hellinger fizeram muito sentido para mim quando comecei a estudar sobre Constelações Familiares. “Um lugar para os excluídos”, “No centro sentimos leveza”, “As ordens do amor”, além do livro autobiográfico “Bert Hellinger: meu trabalho, minha vida”, publicado em 2020, são livros que posso citar como importantes para eu me apropriar desses conhecimentos!
Mas, os livros da adolescência, que mais marcaram foram: “Dibs em Busca de Si Mesmo”, “O pequeno príncipe” e “Fernão Capelo Gaivota”. Todos foram leituras realizadas quando estava no Curso de Formação de Professores, que frequentei entre 13 e 16 anos.
- Você é psicóloga, pedagoga e psicopedagoga. Quais são os desafios de conciliar a sua carreira com a de escritora?
A carreira de escritora é algo muito novo na minha vida. Resolvi aventurar-me nessa nova possibilidade a partir da pandemia. A situação com meu filho ocorreu em 2019 mas, fiz o processo de escrita final desse livro no final de 2020.Em janeiro de 2021 que resolvi fazer dele um livro para que pudesse ser publicado. Estou me habituando a essa nova carreira que trouxe bastante leveza e alegria para minha vida. Apesar de ser um processo de muita responsabilidade, a escrita sai com facilidade e as histórias fluem de forma que entendo que fica mais leve de repassar conhecimentos que nem sempre são tão fáceis de lidar e explicar.
Tenho o desafio de coordenar o tempo dedicado aos atendimentos e ao trabalho que realizo em escola com as leituras que quero fazer. Mas estou num caminho de organização e estruturando bem esses momentos.
- Você fez alguma pesquisa para escrever o livro? Quanto tempo levou para escrevê-lo?
Tudo começou por eu estar frequentando o curso promovido por Marisa Marques e Claudia Aroucas, do antigo Instituto Crescer, hoje, Instituto Multiportas de Práticas Sistêmicas. Naquele momento, deparei-me com a bibliografia de Bert Hellinger, grande sistematizador das constelações familiares sistêmicas. E também com a vivência que trouxe à tona a questão que deu origem ao livro. Depois da escrita do livro, busquei orientações com Solange Mesquita, psicóloga que também trabalha com constelações familiares.
Depois da escrita do livro, a revisão sobre a coerência dos conhecimentos sistêmicos abordado no livro foi realizado por Wilma Oliveira do IDESV (Instituto Desenvolvimento Sistêmico da Vida), liderado por ela e seu marido, Décio Fabio de Oliveira Jr. O casal é sócio-fundador da Atman, editora que enviei meu livro para que fosse avaliado para uma possível publicação. O aceite veio muito rápido e as orientações de alguns detalhes técnicos que foram necessários para que ele fosse publicado como aconteceu. Em 2020 fiz a escrita, e em outubro de 2021 foi publicado.
- Além deste lançamento infantil, você já está trabalhando em um novo livro. O que os leitores podem esperar desta nova obra?
Escrevi outro livro que ainda será lançado. Ele também é para o público infantil, mas pode ser material de estudo para adultos e profissionais da minha área. O tema é sobre a criança interior e traz a história de Lucinha, que é a parte criança que existe na Lúcia – mulher adulta que resolve olhar para uma memória do passado e cuidar dessa sua parte criança que ainda sofria.
Também traz contribuições para a visão sistêmica sobre a vida. O livro se chama “Isso não é meu”, ensinando o que a criança precisa aprender quando na relação com os pais. Mostra a importância do não envolvimento das crianças com os problemas do casal e com as questões dos adultos. Tema que é muito recorrente nas relações entre pais e filhos e que podem causam muito sofrimento às crianças que com sua imaturidade ficam envolvidas nas situações que não podem ser resolvidas por elas.
Além disso, estou amadurecendo a ideia de uma escrita romanceada sobre minhas experiências de autoconhecimento enquanto cliente da psicologia. Afinal, para estarmos bem para realizar atendimentos é necessário muito processo e desenvolvimento pessoal!
Para acessar o release do livro “Tenho um lugar para você” clique aqui.
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