Exposição de crianças nas redes sociais acende debate

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Exposição de crianças nas redes sociais acende debate após casos envolvendo Neymar e influenciadores

Especialista em comportamento humano alerta para riscos emocionais, sociais e de segurança da prática conhecida como sharenting

A recente troca de acusações públicas entre as mães das filhas de Neymar, envolvendo a exposição das meninas nas redes sociais, somada à denúncia contra o influenciador Hytalo Santos por compartilhar imagens de menores em contextos polêmicos, trouxe novamente à tona uma discussão que afeta celebridades e famílias comuns: os riscos da superexposição infantil no ambiente digital.

O fenômeno, conhecido como sharenting, junção das palavras share (compartilhar) e parenting (paternidade), tem crescido de forma acelerada no Brasil. De acordo com levantamento da AVG Technologies, 81% das crianças com menos de dois anos já possuem algum tipo de presença digital criada pelos pais, muitas vezes sem qualquer consentimento futuro.

Segundo a especialista em comportamento humano Gisele Hedler, os efeitos dessa prática vão muito além da perda da privacidade. “A infância é uma fase de formação da identidade, em que a criança ainda não tem maturidade para compreender as consequências de sua exposição. Quando pais e responsáveis publicam constantemente a rotina dos filhos, estão, na prática, transferindo para eles uma pressão social que pode gerar ansiedade, baixa autoestima e até prejudicar o desenvolvimento das relações interpessoais”, explica.

Além das questões emocionais, os riscos de segurança também preocupam. Imagens aparentemente inocentes podem ser utilizadas de maneira indevida, expondo menores a casos de cyberbullying, exploração de dados pessoais e até situações de aliciamento online. “O ambiente digital não oferece controle sobre como esses conteúdos serão replicados, recortados ou até manipulados. Isso amplia a vulnerabilidade da criança em uma fase em que ela deveria estar protegida”, alerta Hedler.

Para a especialista, é urgente que pais e responsáveis repensem a forma como compartilham a vida dos filhos na internet. “Existe uma linha tênue entre registrar memórias e transformar a infância em espetáculo. O impacto psicológico e social dessa exposição pode se estender por toda a vida adulta”, afirma.

O debate, impulsionado por casos envolvendo celebridades como Neymar e influenciadores digitais, funciona como espelho para milhões de famílias brasileiras que enfrentam o mesmo dilema. “Essa não é uma discussão restrita ao universo das celebridades. Todos os pais estão diante da responsabilidade de equilibrar o desejo de mostrar a vida dos filhos com o dever de protegê-los”, conclui Gisele Hedler.

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